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Heterossexualidade

Com Lacan, surge uma nova perspectiva para a expressão “ser hétero”. A heterossexualidade é para todo o ser falante, uma vez que o Outro sexo não existe e o que nos resta são corpos e um gozo sempre Outro. Sem sermos nostálgicos do Édipo, podemos ainda assim constatar que, para os adolescentes de hoje, seu declínio torna muito mais difícil a tarefa de assumir um gênero. Independente do catálogo cada vez maior de identidades de gênero, o falasser tem que se virar com a incompletude. Não é possível escrever o catálogo dos catálogos sexuais, pois o sexo sempre faz furo. Daí que, para Lacan, dizer o que é do homem ou da mulher é algo impossível[1]. Por mais que busquemos no parceiro o mesmo, a contingência faz desse mesmo um outro. Isso acontece porque o mal entendido entre os sexos é inerente à linguagem. Dois seres falantes nunca farão um.

Por melhor que seja o encontro sexual nunca haverá completude. Felizmente, pois a condição para o desejo é a falta e não a presença. Só desejamos porque algo falta. É verdade que a psicanálise foi pioneira ao abordar a sexualidade através da castração. Lacan, contudo, avançou ao pensar o Outro gozo para além do órgão, ou seja, como algo que nunca se adequa ao símbolo que a castração tenta inscrever. 


[1] Lacan J.  « Savoir, ignorance, vérité et jouissance », Je parle aux murs, Paris, Seuil, 2011, p. 34.