Accueil » Anatomia, identificações, subjetivação

Anatomia, identificações, subjetivação

Para o que não existe, é impossível encontrar alguma correspondência anatômica, ou marcas capazes de identificá-lo, e ele também se mostra alheio ao que é subjetivável. Porém, quando o que não existe é a mulher, constata-se que tal inexistência não é sem corpo, faz proliferar as identificações e evoca um vazio que não deixa de se demarcar na evanescência mesma do sujeito que, como um ato falho, aparece com seu desaparecimento ou ilumina-se ao apagar-se.

A concepção de um corpo tecido com furos, palavras e gozo; a pregnância da identificação nas mulheres (e seu esvaziamento em anoréxicas); os enigmas dos corpos transfemininos e até mesmo uma cena infantil que Lacan extrai de sua vida são referências das quais respectivamente se vale cada um dos quatro textos desta parte de Scilicet. Sua leitura ajuda-nos a elucidar como a inexistência da mulher pode até nos fazer prescindir de aspectos anatômicos, identificatórios e subjetivos para abordá-la, mas desde que nos sirvamos do que excede a anatomia dos corpos e do que as identificações e a subjetivação demarcam com o vazio e o furo que, em vão, tentam escamotear.